
Estou há algum tempo pretendendo escrever sobre a querida zoeira, esta que causa tanta confusão, mas é tão divertida. O problema está nas constantes reclamações sobre seus limites, cada vez mais estreitos, fazendo divisa firme com a ofensa. Até que ponto a zoeira é brincadeira e a zoeira é ofensa? Já comentei em outro post sobre a fluidez do respeito, pensando naquelas pessoas que ofendem conscientemente mas respondem "foi uma brincadeira". Ou seja, muita coisa que poderia ser engraçada torna-se ofensiva e vice-versa.
O covarde usa a brincadeira para esconder sua ofensa, isso é verdade: talvez seja essa a origem da zoeira. O bobo da corte era aquele cara que falava as verdades que ninguém tinha a coragem de contar e todos davam risada. O comediante, por assim dizer, é aquele que ofende de forma tal que nem todas as pessoas se sentem ofendidas e algumas até acham graça, reduzindo a quantidade de ofendidos. A coisa mudou de figura, certo? Só de pensar assim, já se conclui que a zoeira tem que ter limites, já que é algo ofensivo, mas isso não é certo por dois motivos: há coisas engraçadas realmente inócuas, e as pessoas perderam a noção do que realmente é ofensivo ou não.
Estou tentando escrever alguns posts que acabam por centrar-se na questão de percepção: uma percepção mais ampla permite uma visão mais acurada da situação, colocando-a no devido contexto. Ver que há pessoas que se ofendem com trivialidades mostra o quão inseguras são em relação ao mundo, não que se deve ter cuidado ao fazer uma zoeira. Por outro lado, há coisas que são muito engraçadas sem ofenderem ninguém, mas precisam de uma visão mais ampla de mundo e uma maturidade que poucos têm. Limitar a zoeira, então, acabaria por tirar a graça do que realmente é engraçado (e não ofensivo).
Talvez desmascarar a ofensa disfarçada de brincadeira ajuda a separar o que é engraçado do que é ofensivo. Não é algo relativo, como alguns querem fazer acreditar, mas sim bem definido. No entanto, relativizar as diferenças permite que possa haver esse jogo de ofender sem suscitar a ira alheia, e mesmo que a pessoa fique indignada, esta que passa por uma saia justa, e não quem ofendeu. Pode-se concluir, então, que zoeira tem limites, e dentro destes limites toda brincadeira é válida. Fora desses limites, o respeito deve ser regra.
Zoar é divertido, e muito. Infelizmente há situações nas quais a pessoa se ofende por besteiras, como disse antes, mas para isso, a sinceridade de intenções mostra que realmente não foi essa a intenção, ao contrário daquele que ofende, que se aproveita da sinceridade alheia para seu fim pernicioso. Interessante que pessoas mais maduras acham graça até nas ofensas dirigidas a elas, para desespero de quem ofendeu, que acaba se sentindo ofendido no final das contas.