Chrono Trigger - por que eu não gostei

Finalmente consegui terminar o Chrono Trigger, um jogo para SNES. Não irei zerá-lo (há uma diferença fundamental entre terminar um jogo e zerá-lo), pois a história dele já me incomodou demais. Apesar dos gráficos bonitos, trilha sonora profunda, Chrono Trigger não é nada inocente e possui uma temática pesada, indo na linha do Fable. Assim como o Fable, Chrono Trigger também tem escolhas a serem feitas que mudam o rumo da história, gerando uma gama de finais próprios, apesar de previsíveis.
O enredo do jogo é um garoto, Crono, que com a ajuda de suas amigas Marle e Lucca, viajam pelo tempo para evitar a destruição do planeta. Ainda pode parecer inocente, afinal diversas séries infantis (animadas ou não) possuem essa temática. Conforme viajam no tempo e causam mudanças em toda a história, vem à tona o causador dos problemas, o parasita Lavos. Ele vive sob a superfície do planeta, alimentando-se dos restos de seres até atingir um desenvolvimento tal que provocaria a destruição da superfície, talvez o colapso do planeta como um todo.
Para isso ser resolvido, é necessário não só ir ao passado mais remoto como também ir a épocas posteriores, já que algumas pessoas tentam se apropriar do poder de Lavos para dominar o planeta. Se o jogo virasse filme, talvez seria um drama dos pesados, ao contrário do que se pensa sobre o RIPD, que parece terror, mas é uma comédia muito engraçada (com um pouquinho de drama). Ao longo do jogo, comecei a ficar incomodada com a história, desejando terminá-lo a qualquer custo, independente do final que poderia ter.
Em duas épocas Lavos é visto como algo benéfico: na pré-História e na Era Negra. Na primeira, Lavos é esperado por uma espécie de répteis pelo calor que traria ao planeta e pela destruição que causaria aos humanos, seus rivais. Na segunda, esses répteis tornam-se os místicos, seres humanoides com habilidades mágicas, que usam a energia de Lavos para seu conforto e domínio, deixando o resto da humanidade no frio e na fome. Cabe ressaltar que nessa época Lavos é "cultivado" para que transmitisse mais energia. Por isso seu ápice de desenvolvimento é adiantado.
Só não chega a ser uma corrida contra o relógio porque você pode pausar o jogo e tentar ir dormir, risos. Lavos não é difícil de destruir só por estar no subterrâneo, mas por haver pessoas tentando protegê-lo. Nessa Era Negra, quatro pessoas decidem combater Lavos da forma que melhor podiam: os três gurus e o príncipe do Reino de Seal, ou Zeal em algumas versões, lar dos místicos citados anteriormente. O colapso desse reino traz calor de volta ao planeta (Lavos que energiza tudo?), permitindo o surgimento de uma Idade Média onde os místicos confrontam com humanos novamente.
Bom, eu poderia ficar contando do jogo, mas acho que não ajudaria a explicar mais detalhes dos motivos pelos quais não gostei. Em uma das cenas, você precisa salvar a mãe de Lucca, que ficou presa em uma máquina. Se não conseguir desligá-la, a senhora simplesmente perde as pernas. Isso não é mostrado no jogo (ainda bem!), mas é subentendido pelo grito que ela dá com o jogo apagado, e as duas anotações do diário de Lucca se lamentando por não ter conseguido salvá-la. Isso não interfere no desenrolar do jogo, mas causa uma bela dissonância cognitiva aos desavisados.
Enfim, o combate com o Lavos poderia ser um mero combate final se não fossem as coisas reveladas e por serem reveladas. Em um dos diálogos dos personagens, questiona-se por que tais coisas estavam vindo à tona, e quem as estaria provocando. Não sei se a tradução se perdeu, mas se descobre que Lavos tem um núcleo inteligente que direciona todas as coisas, inclusive fatos e seres. Ou seja, os seres são manipulados por Lavos para terem determinada evolução para que pudesse alimentar-se dela depois. Esse calor transmitido por Lavos é uma forma de controlar os seres para que façam o que ele deseja, sem que precise ordenar diretamente.
Lavos havia transformado o planeta em que se encontrava numa Matrix, direcionando os seres para o que considerava ou não conveniente, para alimentar-se de sua evolução e assim desenvolver-se. Com a Era Negra, seu desenvolvimento foi acelerado, permitindo que a destruição do planeta fosse adiantada. Quem se daria bem com toda essa catástrofe seria a rainha Seal, que se tornaria imortal e buscaria dominar o universo. Matar Lavos não é um mero ato de heroísmo, mas um ato desesperado em nome da sobrevivência do planeta, além da própria e das pessoas em torno.
Isso deixa o jogo com um gosto ruim na boca, que nem o Festival da Lua (ou das Estrelas) consegue tirar. É como se Lavos ainda existisse e pudesse voltar a qualquer momento. Como combater este tipo de mal? O desespero de Lucca ao se despedir do Robô é plausível: com o passado alterado, o futuro poderia ser completamente diferente, e Robô poderia deixar de existir. E aí? Robô vai, tentando consolar a amiga. A mãe de Crono cai na passagem temporal por acidente, correndo atrás do gato de estimação, dando a entender que uma nova aventura, muito mais tranquila, começaria. O gosto amargo só persiste.
Chrono Trigger tem diversos finais, sendo este o final padrão. Basicamente, você tem duas categorias de finais: a primeira, é quando você acaba o jogo pela primeira vez; a segunda, é quando você acaba o jogo novamente (você pode recomeçar o jogo com os personagens já upados e equipados). Dessas duas categorias existem duas subcategorias, ligadas à primeira categoria: ressuscitando Crono ou não. Basicamente, ressuscitar Crono é uma tarefa fundamental, já que para isso você utiliza o principal item do jogo, que leva o nome do mesmo: Chrono Trigger, o Gatilho do Tempo.
Os finais variam quando você mata (ou não) Lavos, se salva a mãe de Lucca, ou mesmo se é utilizado o portal do tempo para o combate final (o que evita que a mãe de Crono desapareça no final do jogo). Interessante que há até um final caso você falhe em matar Lavos, ou seja, o jogo não recomeça para você tentar novamente, ele simplesmente acaba com a destruição do mundo e a frase: "mas o futuro se recusou a mudar". Em um final extra, esse assunto é retomado: Lavos destruído se funde com a princesa Schala, transformando-se no Devorador de Sonhos, um ser imbatível, mesmo para os heróis. O jogo acaba com eles voltando no tempo e Magus perdendo a memória.
Enfim: Chrono Trigger não é um jogo legal, no final das contas. É uma história realmente triste, cujo final feliz não compensa nem um pouco as tristezas ao longo da história. Ao contrário do The Legend of Zelda - Ocarina of Time, que o que tem de pesado são apenas uns monstrengos, Chrono Trigger tem uma história depressiva, que pode terminar de forma mais triste ainda.
Comentários
Postar um comentário
Deixe seu comentário. Ao clicar em enviar, aparecerá uma caixinha de confirmação.